segunda-feira, 28 de junho de 2010

Cubo

Ela se sentou no banco de uma praça mal localizada no extremo dos dois caminhos, do seu e do homem ao seu lado.
A rua pouco iluminada com passageiros de aspecto estranho e disforme passam por eles.
Ele está sério, e parecia confuso, por várias vezes limpou seu óculos que nem sequer estava sujo e analisava o presente que ela acabava de dar, um globo em forma de dado de trinta centímetros de largura e comprimento que ele paquerava desde o início do namoro deles e ela finalmente resolveu compra-lo.
Agora, parecia estúpido e desnecessário o presente surpresa, pois quem estava surpresa era ela, alguma coisa nele indicava um sinal de que alguma coisa havia saído de forma.

Carla, você sabe que eu te amo e que você é muito importante na minha vida, eu quero que você saiba que você não tem culpa de nada, só que eu não posso continuar com isso.
Do que você está falando? Não gostou do presente?
Eu amei querida, eu queria muito esse dado, mas estou falando de nós.
Nós? Nós estamos bem, quero dizer, você anda trabalhando muito, mas isso é bom, não?
Eu não ando trabalhando muito Carla, eu estou voltando com minha ex mulher, você se lembra daquele casamento que eu fotografei? Eu a encontrei, nós conversamos e estamos nos acertando.

Eu só quero que você entenda, não é você, sou eu..

Carla estava aturdida demais para qualquer emoção, aquilo realmente não devia estar acontecendo, seus olhos ficaram estranhamente secos, como sua garganta e ela não conseguiu esboçar nenhum som, a figura de Caio agora era apenas um borrão distante e sua palavras não fizeram efeito nenhum dentro da sua mente. Pareceu apenas um sonho apático ruim que ela não conseguia acordar.

Você está me entendendo, Carla? Eu espero que me desculpe por tudo isso, pode levar o dado se você quiser, eu vou entender.
Claro que não Caio, é um presente, eu só preciso de um minuto, tá legal? Pra eu poder assimilar tudo, eu vou pra casa.
Deixa que eu te levo.
Não! Eu quero ir só.


Carla seguiu a rua escura sem som dentro da cabeça, parecia um quadro distante, depois de todos aqueles meses o fim dos dois seria assim? Um término frio em uma rua estranha as palavras ouvidas “Não é você, sou eu” que ela nunca pensou que realmente ouviria soavam na sua cabeça como uma piada.
Passos a frente sentiu alguém olhando, era um homem de boné vermelho que caminhava na outra calçada que vez e outra a olhava, devia estar se perguntando por quê aquela mulher se esgueirava rua adentro aquela hora da noite, sozinha com a expressão de que foi atropelada por um ônibus e não se deu conta, o homem de boné vermelho atravessou a rua em sua direção, mas Carla só conseguia pensar em como fará para pegar suas coisas na casa dele e a quanto tempo está sendo feita de completa idiota comprando presentes para o homem que a estava traindo sem que isso lhe passasse pela cabeça, e ela toda preocupada por todo esse tempo com ele.

Moça, discretamente, não faça nenhum movimento e passa seu celular.
O quê?

O homem de boné vermelho se agarrou a seu braço e pressionou algo metálico em sua pele, seus dedos duros fizeram pressão e ela não conseguia prestar atenção nele.
Moça, eu não estou brincando, isso é um assalto, passa logo a porra do celular antes que eu te enfie uma bala.
-Celular? Que celular? Eu não estou com celular, nem dinheiro, nem namorado, nada, deu pra você ver não?
Não me obrigue a atirar moça - Ele mostrou o objeto prateado escondido até então por dentro do casaco e a chaqualhou rudemente enquanto caminhava mais devagar. Para ela, nada daquela cena fazia o menos sentido, nem Caio, nem o moço de boné vermelho, nem a arma apontada para suas costelas.
Carla achou estranho sua própria ausência de emoção e parou de caminhar mesmo o contrariando seu suposto assaltante e o olhou bem de perto, ele parecia um cão com olhos de raiva, confusão e impaciência e a única coisa que Carla fez foi sorrir.

Sabe de uma coisa? Eu estou dizendo a verdade, eu adoraria ajudar, mas você me pegou desprevenida, não tenho nada comigo, pode até me revistar, mas sabe, acabo de deixar um homem na praça, não deve estar muito longe daqui, se o senhor se apressar o senhor ainda alcança, ele sim, tem dinheiro,celular, uma câmera fotográfica que vale pelo menos mil reais ao você.
Ah! E com vários homens indo e vindo por aqui seria muito fácil encontrá-lo, francamente!pensa que eu sou algum otário?
É fácil, ele está carregando um dado enorme, você não tem nada a perder.

O assaltante de boné vermelho a encarou desconfiado e resoluto. Ele realmente não tinha nada a perder, pressionou a arma mais uma vez só que dessa vez com mais forma forte machucando sua pele e a encurralou na parede. Ela por sua vez não demonstrava nenhum medo ou desespero, apenas certeza e frieza a ela.

Eu espero que você não esteja brincando moça, matar você seria fácil.
Se você não demorar ainda estarei descendo a rua, vai me agradecer, acredite, é só procurar um homem com um dado enorme.
Você é louca!

Sem tempo a perder o assaltante segue o outro caminho em direção a sua próxima vítima, ainda olhando de soslaio a moça estranha que caminha como se nada tivesse lhe acontecido, como se fosse comum assaltou, plantas de vítimas a ladrões e armas apontadas para ela.
Carla, por sua vez volta a caminhar descendo a rua em direção a sua casa. Com todos os acontecimentos irreais daquela noite a única coisa que realmente esperava era que um sorriso lhe atravessasse descaradamente o rosto, mas mesmo assim, sorriu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Palpite:

Seguindo

Visualizações de página