Mariel Clayton

Nada de  feminilidade embonecada, Barbies sadomasoquistas, vadias, bêbadas, decadentes, porem.. reais.

Esse e o visão do mundo feminino real de Mariel Clayton. 

Redatoras de Merda

' - Você mudou.

- Como assim? -Ele perguntou enquanto mastigava.

- Você nem reclamou que esqueci de picar bem a cebola.

- É, sei lá. achava chato ver você picando a cebola só pra mim. aprendi a gostar dela assim.

A conversa deu uma pausa reticente. ela demorou a voltar a comer, como quem tinha mais a dizer, mas engoliu as palavras junto com o macarrão e mudou de assunto.

- Sabe aquele livro que eu tô lendo?

- Hum?

- Sabe? O da capa amarela?

- Sei, sei.

- Viu ele por aí?

- Vi em cima do sofá.

- Já olhei lá, não achei.

- É porque eu guardei na estante.

- Guardou?

- É. vi em cima do sofá e guardei.

- Você viu o livro, pensou que aquele não era o lugar dele, pegou e guardou?

- Fica de gracinha que na próxima coloco no chão, hein?

- Calma, brincadeira, foi só um jeito desajeitado de demonstrar gratidão pela sua inédita atitude.

- Isso é bom?

- É ótimo.

A mudança de hábitos era visível. Tão visível que ela questionava a motivação. A tampa do vaso agora estava sempre fechada. A toalha de rosto estava sendo usada para enxugar o rosto e não para secar o suor embaixo do braço. Os amigos que gastavam todo salário em bares sumiram. E o mais suspeito: O marido continuava lá, feliz.

Sentiu um cheiro de outra no ar. Isso explicaria por que ele comprou um perfume novo e chegou com flores outro dia. O que mais pensar senão - "Fudeu, ele tem um caso"? Depois de anos se esforçando, travando batalhas pra ele mudar, ele simplesmente... mudou? assim, por conta própria?

Partiu então para a prova final.

- Luiz, tô a fim de ver um filme.

- Pode ser, quer ir ao cinema?

- Não. Pensei em ver aquele que comprei outro dia.

- O do menino que dança?

- É, você resumiu bastante. É na verdade sobre uma família em que os homens tradicionalmente trabalham em minas e o caçula tem talento pra dançar. tem todo um contexto, uma profundidade.

- Eu sei, eu sei, você falou tudo isso da outra vez que tentou me convencer.

- Você não veria por mim?

- Olha a chantagem, heim.

- Poxa, você mudou em tanta coisa mais difícil.

- E nunca tá bom, né? Tenho que ver o filme do boiolinha pra provar que te amo.

- Não é boiola, ele só dança.

- Ah, dá no mesmo.

- Quer dizer que você não vai ver?

- Só se você ameaçar cortar o sexo.

- Tudo bem, deixa pra lá, eu vejo outro dia.

E deu as costas aliviada.'