segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O último pedaço de torta


                Pense em uma grande torta doce. Pense melhor e imagine que é uma torta alemã, que pessoalmente é minha favorita. Elas são rodeadas de biscoito de baunilha, glacê cremoso, massa fofa e chocolate. O melhor chocolate em cobertura gelada. 
Não há para meu paladar gosto mais atraente, mas embora seja sim minha favorita e eu consiga ficar dias falando de suas qualidades, não existe exclusividade alguma nesta torta e assim como a minha torta preferida, existem tantas outras iguais e até melhores.
Engraçado como somos parecidas, ela e eu, pois às vezes nós somos tortas. Pode ser que estejamos soladas, frescas ou com muito açúcar, mas não é incomum sermos expostas em grandes vitrines, com cobertura atraente e preço alto. Só que assim que alguém leva à torta, aparece outra idêntica ocupando seu lugar. Não há muita unicidade nesse setor.
                Isso me deixa com uma sensação estranha, que por mais deliciosa que alguém pareça, não importa muito quem é ou o que faça. Se alguém está em dúvida entre você e outro sabor, ou se achar algo com a cara melhor, como a sensação cupcake do momento, você pode ser substituído.
         Esse conceito pode parecer bobo (e é), mas é melhor ter isso fixo na cabeça do que acreditar que é o contrário. Pode ter certeza, tem receitas que acham que são únicas, que foram feitas uma vez e que você tem sorte de ter um pedaço dela.
Infelizmente tortas, não é bem assim que funciona, não existe esses pedestais imaginários, envoltos em uma camada de cobertura especial, cheios de retoque colorido do Instagram. Ninguém é tão importante assim que não possa ter outro melhor.
É triste de ver, mas essa característica quase doentia de se achar melhor que alguém por uma superioridade existente só dentro da própria cabeça, pode ser também rapidamente diagnosticada por insegurança, afinal nenhuma torta deve querer ficar pro dia seguinte.
Então existe uma supervalorização de si mesmo absurda, uma corrida fantasiada onde devemos ser melhores que os demais, aparecermos mais do que as demais, ficar mais apetitosa do que os outros e isso tudo para que exatamente?
                Eu estou nesse devaneio todo por um caso particularmente engraçado dessa semana, quando acontece esse exagero de vaidade de uma pessoa se auto afirmando demais. No meu caso, chegou a ser até mesmo um pouco cômico, mas me fez pensar em como ouço casos do tipo ultimamente, em como as pessoas se projetam melhores do que são por um medo surreal de acabarem sobrando.
Então eu observei a cena de longe, vi o merchandising de si mesmo feito de bar em bar, de mulher a mulher e achei tudo muito ridículo, meneei a cabeça e infelizmente (infeliz) reconheci que em algum momento da vida todos somos assim.
Acho até normal se você ainda é adolescente e confuso, mas depois dos vinte é bom repensar sobre isso para não virar patológico. É uma atitude feia! Meu Deos como ela é feia! É mais feia que qualquer imperfeição que na realidade possamos ter.

               

Posso ser eu feia, até reconheço que estou um pouco solada e que o recheio está meio sem doce. De repente não seja eu a melhor da vitrine, mas prefiro ficar aqui com cara de ontem do que ficar fingindo por aí que sou creme brulee, só que com gosto de gelatina, pois tenho certeza que se alguém decidir levar pra casa, não vou estar enganando ninguém.

Seguindo

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