quinta-feira, 29 de julho de 2010

Por André Gonçalves

"Preciso respirar a madrugada à céu aberto,
Correr perigo, falar alto, vagar o olhar pela multidão e fumar
E depois, bem depois de cansar..

Procurar abrigo à te mirar
E torcer pra poder,
Delirar minhas mãos na tua silhueta,
Por os lábios, bem servindo, seus desejos
E nada de manhã…

Deixar o domingo ficar tarde
E a sombra ir embora
Cair em seu colo feito ninho, feito precipício
E deixar você de pouquinho em pouquinho
Me devorar…"

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Groselia Instantânea

Você apareceu do nada
Carregada de políticas controversas e novidades
Cheia de sotaques e manias
No instante que tudo era velho
Você me trouxe o novo
Com o tempo, a vida e a dor
Aproximou as barreiras
As tendências,
Seu coque que eu adorava
Banhados em suco de groselia instantâneo
Uma saudade do quintal no verão castigado
Você se perdeu minha linda
Você ficou preta demais
Queimada demais
E feia demais
Eu sinto falta de quem não existe mais dentro de você
Sem sufoco de garras e personalidades má
Mas
Isso passa
Issso também passa
Você cavou demais na inconsequência
Foi demais sua existência
E para mim
Aquele ser bonito
Que queria piercings e não covinhas
Me afastou
Se afastou
De um tanto mudou
E eu não te quero mais
Vá junto com os outros
Que não te quero bem
Nem mal
Nem demais

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Tempero

Eu me via cantorolando pela sua casa
Colocando seu tempero favorito na sua vida
Dormindo enrolada em verde e branco
Cansada de seus sapatos
E dançando com sua infancia
Coisas que nunca imaginei
Me conformei com seu cheiro de estrelas
As asas batendo acima de nós
Fazendo um sonho de mim
Não diga adeus ao meu desejo
O céu que esta acima do meu mundo
Levará sua tristeza embora

Perto demais do seu coração
Na velocidade do seu vento
Apenas o Sol pode nos retirar do nosso arco-íris
E ele sorri para nós
E quando as sextas de nuvens negras nos tocarem
Eu velarei suas orações
E uma nostalgia te fará desistir
Mesmo que não entenda
Levará sua tristeza embora

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Oui

A nostalgia tão clara quanto a filosofia estagna meu ser humano e as capacidades inoquas e sentimentais no livre acesso a cultura de massa e a revolução depressiativa da sanidade que se faz entender, machucam o intelecto mundial.
O ócio a tempos aclamado e atualmente irritável me coloca diretamente a uma posição de histeria, me sinto diretamente histérica com algumas palavras e com a suposta necessidade de ouvi-las em dialeto francês por quê me acomete que este não é tão usado assim pela patetice social, uma necessidade um tanto quando absoleta e jocosa de ouvir e ver o que não se diz nem se vê, o fato é o tédio e a cor abstrata que me repudia, e como faço parte do sistema solar, me entedio comigo mesma, apenas por permanecer no mesmo sistema solar.

domingo, 4 de julho de 2010

Carona

Carona



Apressou o passo enquanto a chuva apressava suas gotas
Fechou melhor o casaco e se abraçou
Aquela rua nunca pareceu tão comprida
Aquela noite nunca pareceu tão vazia

- A senhora deseja que eu lhe acompanhe? - Uma voz grave de um homem do outro lado da rua lhe atingiu, não sentiu medo, na verdade, alívio, pareceu ruim e errado estar naquela rua à noite e só, ele era só um casaco longo com um guarda-chuva na luz de meio-fio.

- Sim, gostaria, esta chuva está me matando.

Caminharam em silêncio por alguns passos, ele tinha cheiro de livro novo, suas mãos eram firmes e seguras e não soube dizer por quê teve vontade de ir mais devagar.


-Não acha perigoso ser acompanhada por estranhos? Já está tarde afinal e essa sempre foi uma cidade perigosa.

- Acho mais perigoso os conhecidos, não creio que o senhor possa me fazer mal.

- Não crê? A senhora não me conhece.

- Não sei te explicar de outra forma, mas é como se ao descer essa rua nada mais pudesse me fazer mal, acho que já não me importo mais com nada,

- Exceto com a chuva?

- Exceto com a chuva. – Sorriu, era estranho se sentir familiarizada daquela forma, como se tudo fosse normal e corriqueiro, e como, sem a chuva lhe atrapalhando só queria andar um pouco mais.

- A senhora sabe aonde está indo?

A pergunta lhe tirou da nostalgia e lhe embaraçou um pouco, na verdade, olhando bem, não conhecia aquele caminho, e nem para onde estava indo, abriu os olhos num sobressalto, como se acordasse de um sonho que caísse, mas permanecia caindo.

- Aonde está todo mundo? Aonde está o caminho para casa?
- Então a senhora não sabe?
-O quê eu deveria saber? - Sua voz saiu num sobressalto, o medo de saber venceria a vontade de perguntar.

- Não são as pessoas que sumiram, e sim a senhora que optou pelo sumiço delas, você acaso não sabia que está morta?
- Morta? Eu? Mas isso é ridículo!
- Se não está, prove, olhe para trás.

Temerosa e um tanto quanto resoluta, mas convicta que se a morte tivesse lhe achado ela teria em algum momento notado, parou seu caminhar tropego e olhou as suas costas.
Dizem que os olhos são os últimos órgãos a responder ao corpo, mas ela se olhou a passos atrás em uma rua escura, aceitando a morte de olhos abertos,pode-se lutar com a vida, mas com a morte, é melhor aceitar sua carona.

Seguindo

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