sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Crendices


Não há uma pena
Que possa
Esvaziar
O que não entendo
Aqeuele famoso Nada-Oco
Me sugando seios invisíveis
Interrogando inevitávelmente uma fúria calada
Que só posso ouvir ao grito baixo
Que nem dou espiralmente
Se pudesse ao menos ensurdecer
O quê não estou apta a saber
Te sentir, dói
Dói segurar
Aquele colorido achatado que você vê quando ouve algo que ama
Achata minha crendice
E lembro que
Tem tempos que parei de acreditar

Vou por


O café e o cinzeiro fumaçando
Assim como minha cabeça
E minhas mãos
Queria, como sempre quis
Uma brecha dentro da minha mente
E tão difícil, Apenas ouvir
Apenas ver você
Sou tão repetida de mim
Tão rabiscada de passado
Que se você não olhar bem
Vou por te enganar
Como me engano nessas décadas todas
-Entenda, não é quem você é
E sim o quê penso de você
O que me iludo de você
Quanto mais se pensa em viajar
Mais estaco no mesmo lugar
E se você fosse mais problemático
Talvez pudesse me encontrar.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Rotatividade

   I  ATO

Uma caneta escorregou dos seus dedos frio, parecia estar em uma imagem de Londres, bucólica e cor de cinza.
Alguns raios abandonavam o céu trazendo a noite apática, enquanto o relógio da parede parecia nunca alcançar o tempo necessário para poder sumir daquele cubículo.
Existiam vários como esse nesse edifício, mas apenas esse exalava pressa, ansiedade e excitamento.



Jacques se levanta, desliga o monitor e caminha até o banheiro. Ela sabe que os cubículos ao lado a observam passar. Seu sexo é o pensamento dos seus companheiros de trabalho, mas Jacques nunca os corresponde. Para ela não é novidade o prazer que eles buscam em sua cama, mas ela vive a ponto de vomitar-lhes.

Não havia nada no sexo que ela já não saiba. E isso que a aborrece mais.
Evitando pensar neles, ela se tranca no banheiro gelado e pateticamente branco, senta-se na tampa da privada e deixa seu corpo prazeroso aproveitar os minutos que restam, sozinha..

 II  ATO

Os passos dele se suavizaram a tocar a avenida, era dia, perto da madrugada, os primeiros comerciantes iniciavam a correria da manhã mal começada. Ele atravessou a calçada e um sujo panfleto atravessou seu caminho, que o convidava a uma exposição irreverente da carne podre humana no couro animal.
Parecia irônico, largar a arte na semana que recebe um convite, por puro acaso do caso.


Algumas meninas bêbadas riam insolentes na esquina dividindo um cigarro sujo, se escancarando a direção alguma. Ele se deparou consigo as observando como um bobo objeto fora do cenário, enquanto a mocinha de cabelo esvoaçante lhe atira a guimba entre seus pés e ri em disparate, pois não consegue soletrar "desculpe".
As amigas coloridas a encorajam a ir até ele, mas quem vai é o próprio.

 III  ATO

Assim que Marcus girou a chave liberando a entrada, ela o puxou para dentro, invadindo o ar do gosto de álcool e cigarros da noite mal acabada. Ela o beijava com olhos alcoolizados, as mãos ligeiras desmanchando a blusa.
Ele porém, mal se movia centímetro, apenas esperando-a tomar forma e o conduzir a qualquer que fosse o cenário.


Ela encarava o chão em uma guerra particular, revelava os seios pequenos, as coxas abertas mostrando o sexo tão despudoradamente.
Apenas o que não se encaixava no quadro era seu rosto pouco convincente, sua apatia e desamor a ele estendidos, sem excitamento, sem emoção, lhe fazendo um apelo mudo.


Quando já não pode mais olhar, se rendeu ao pedido se deitando ao seu lado como um dar de ombros, colocando-se a beijar a água salgada que despencava dos seus olhos, desejando então uma boa noite, um bom dia.

IV  ATO

Acordou sem abrir os olhos sentindo o som da música emprestados do apartamento ao lado, encarou o teto e o relógio parado junto a cama. Jacques regulava toda sua rotina, todos os horários do seu dia eram observados e cheios de obrigações, exceto o domingo. Esse era o dia sem hora e sem gente,  onde ela era dona de todas as horas. Sentia-se sua própria dona de um mundo feito em uma canção de bossa nova. 


Acendeu um cigarro sentindo a fumaça espessa levar as lembranças torpes e meio borradas da noite passada, que justificavam sua inquietação e necessidade de calcular seu tempo. Como não sabia o que era tal coisa e o que a havia acometido, se prontificou a não fazer nada, exceto ouvir a canção roubada, como ela diria.

V  ATO

Irritado consigo, reabriu seu passado mais cedo e quando percebeu era noite. Não tinha comido nem bebido nada, apenas ignorava sua dor e exaustão.
Telas estranhas o censuravam agora e por pouco poderia jurar que jamais as tinha visto, como se elas tivessem sido arrancadas da sua mente em um ritmo tão ligeiro que o corpo não acompanhou.


Nenhuma das cores e formas poderiam fazer demonstrações de como ela era por dentro, do que ele tinha visto, ou do gosto dos seus olhos. Seus dedos cobertos de tinta substituíram os pincéis nas telas e nada realmente se parecia com suas imagens, podendo ver agora que sua mente havia lhe traído.
Em um canto aflito da janela via os letreiros reluzentes em neon o intimando a rua. Mas essa noite iria ser só de tintas, tentativas e dela.

VI ATO

Aquele som a atormentava, os carros agitados de fim de semana com suas buzinas estridentes, que mais a distraiam que a guiavam. Ela resgatava nas lembranças onde a sede insuportável começou e piorou. Só queria não chamar a atenção dos seus cúmplices do tráfego que buscavam seus seios balançando no trôpego, chamando para si toda atenção dos seus demônios pessoais.

 

Pareceu estúpido, endemoniar homens e correr ao encontro de um.
Um dos seus observadores se posicionou em sua direção e ela o ignorou rapidamente. Em algum lugar do mundo das horas era tarde, e ela só.
Por um instante sentiu culpa pelo desejo dos outros homens e quis que isso parasse para que pudesse seguir seu caminho sem medo, mas para sua desgraça, um botão de sua blusa se desprendeu, enchendo a gula da malícia. Andou apressadamente, se se esforçasse sentiria as mãos grandes já pousadas sobre ela.

 VII ATO

Seus olhos abriam e fechavam em sufocamento, era como se os olhos tontos vissem pela primeira vez, suas bocas estavam secas em curvas de sons incompreensíveis, e nada era humano em um dialeto bizarro.
Suas mãos agarravam ao lençol da cama com veemência, seus joelhos levemente curvados oferecendo seu calor que fez queimar todo o corpo, o chão, o metal.
Se movimentaram juntos em contraste corpóreo, se arregalando de espasmos viscerais e pode sentir que alguma coisa estava errada, ou certa demais.


Era algemada por pernas em posição de rendição, mas dessa vez ela não queria comandar, só queria poder brincar de domingo e esticar essa sensação, para sempre.


A cada entrada, a cada saída, se sentia mais próxima no centro de todos os pecados carnais, não haveria um só desejo que seu corpo pedisse, que pudesse negar e ela em resposta não ousou se modificar, apenas estendeu o corpo, se colocando despudoradamente a ele, em um pedido de mais.


Seus seios em auto-relevo se misturavam a cabelos soltos, enroscados, cada vez mais rápidos, cada vez mais urgentes, impiedosos e prazerosos. S suor lhe escorria pela nuca, enquanto a mente agitada não captava todos os sentidos ao mesmo tempo, apenas explodia em gemidos de gozo, realização e prazer.

 

VIII ATO

Ela ajeitou o relógio do domingo encerrado e já era hora de contar as horas.
Ele ajeitou as tintas e as telas e as jogou fora.
O gosto do seu sexo por dentro em nada tinha gosto de tinta..

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Crônismo


Preciso, indiscutivelmente de mais, não é por que seja de caráter ambicioso, na verdade, não sou
Até que me acostumo com pouco
Mas a minha postura de anti-retrocesso me faz ser também irrevogavelmente insaciada pelas coisas que não sou capaz de reproduzir sozinha
E isso sempre me tras insatisfação..

Seguindo

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