terça-feira, 4 de maio de 2010

A Condida e o Frio.


Era fácil dizer que era racional, só o que não era fácil seria alargar cada passo que separava o encontro, entre ela e ele.

Decidido assim ser o encontro no bar, bar esse que tudo começou em um encontro de fim desastroso
agora esse fim, teria de fato o fim dos dois.

Ele se encontrava sentado mordicando alguma coisa, ela, apressada no intuito de não parecer abalada, ele era o gelo em carne humana, e ela, se continha a segui-lo, mesmo com a ansiedade marcando seu estômago.

Ela sentiu seu rosto se esticar num sorriso sem dente expondo toda simpatia que não sentia, com a desculpa pouco convincente talvez a entrega de discos que ele a emprestara e agora estava ele, o causador da insônia e saudade, a saudando de forma branda e real, era o que ele era, real, ela, beirava a irrealidade, a controvérsia, a maldade existente na gentileza, que nada lhe favorecia.

-Eu estou apaixonada por você, eu não sou quem você viu naquela quarta-feira, eu quero sua vida para mim, sua paixão cega, quero seu gole de uma gota só, quero teu peso sobrepondo o meu, todos os dias.- Sua mente agitada chegou a ouvir as frases dentro da cabeça, mas o que realmente aconteceu, foi um singelo – Olá, como vai? Quanto tempo!

Ele por sua vez, repetiu as mesmas coisas, o mesmo tom de casualidade e um certo desconforto lhe sobressaltava as têmporas disfarçada a sua cortesia.

O assunto da sua boa tagarela eram os vinis e as músicas, ele ora ria, a conversa se tornou mais amigável, sua veia parou de se agitar na sua testa e seu sorriso se tornou sincero e lembraram o por quê haviam se deitado na quarta-feira passada. A cerveja arranhava a garganta, soltava seus braços e bocas e eles se dispunham a falar como antes, a boca se tornou perigosamente mais próxima como antes e as borboletas saíram em voou raso dentro da sua boca.

- […] E até por quê isso você sabe, já me viu nesse estado.. - Ela se retesou antes das palavras tomarem forma e sentido fora da língua, mas não tinha como voltar atrás, nomeou a cabeça e sentiu a frieza exalando dele que fez sua pele arrepiar e ela sentiu que era hora de partir.

-Olha eu tenho que ir, sabe como é, depois fica complicado para eu voltar para casa. - Se houvesse qualquer inclinação para convite de outra noite menos caótica esse seria o momento e ela sabia, suas palavras eram meticulosas e seus olhos fincaram em uma visão cega.
-Ah é verdade, também eu tenho muito o quê fazer, essa faculdade está me matando, você sabe.

A rua se estreitou as suas pernas, e a noite se aninhou em pedaços a passos, o cigarro quente suavizou seu tremor e ficou horas até os minutos a sua casa imaginando as coisas que poderia ter dito para que houvesse algo conhecido para lhe acompanhar para casa, estreitos seu casaco aos seios e caminhava a toca, tão consciente quanto podia que se e ele não fosse a escultura em mármore mal feito que transparecia não precisava se esconder tanto atrás de vinis emprestados, sua sombra deixara de seguir no último quarteirão e tudo se tornava púrpura, até seu ar.
Imagina-se como a vida pode ser diferente a cada passada, a cada tomada de decisão, se não fosse o conter de línguas e libido, talvez seus braços não seriam seu abraço, ao menos essa noite.

4 comentários:

  1. fui buscar esse parágrafo pra você.

    "[...] a escola moderna tenciona combater todos os preconceitos que impedem a emancipação total do individuo, e é por isso que ela adota o racionalismo humanista, que consiste em inculcar na infância o desejo de conhecer a origem de todas as injustiças sociais a fim de que, por esse reconhecimento, ela possa, em seguida combatê-la e opôr-se a elas."
    Francisco Ferrer y Guardia

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  2. Nascido em 10 de janeiro de 1859 na Catalunha, Francisco Ferrer y Guardia é conhecido como o grande organizador da experiência da "Escuela Moderna" de Barcelona.
    Contando com colaboradores em todo o mundo, Ferrer inspirou discipulos, defensores de uma educação crítica às formas de dominação, mista entre os sexos e as classes, laica e sem prêmios nem castigos.

    Há exatos cem anos sua execução marcou a imprensa operária. Perseguido pelo Estado e pela Igreja é preso, acusado de mentor intelectual de agitações na Espanha, sendo fuzilado em 13 de outubro de 1909.

    Protestos contra o ocorrido renderam repressões e prisões ao movimento operário de todo o mundo, mas o método e a filosofia de educação de Francisco Ferrer y Guardia, se espalham por diversos países, inclusive o Brasil.

    è uma otima leitura para quem se interessa pela educação libertaria
    http://www.4shared.com/file/31103106/484a3d6b/Ferrer_y_Guardia_-_La_escuela_.html?s=1

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  3. gostei da historinha.
    as coisas seriam mais simples e interessantes se quiséssemos tentar realmente ser livres e sinceros.
    se as dúvidas não girassem em torno de declarar um impulsivo amor eterno ou esconder-se.
    certamente o pior mesmo é sentir frio por ter o corpo quente.
    provavelmente ela se esconde de si mesmo, percebi no texto logo de cara.
    mas eu não entendo nada sobre pessoas.

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  4. Vou baixar, ele é ótimo.. pelo que li rapidamente

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