Vi meus pés subindo aquelas escadas lascadas antigas.
Degrau por degrau
Rachadura por rachadura
Vi tudo tão tortamente e porcamente que apenas por hábito
continuei subindo.
Só podia me fitar nós pés, aquele cansaço me sacudia as
pernas, e na verdade não havia coragem de olhar para frente.
A porta abre, a mente fica, aonde tudo começou outra vez.
Naquela segurança de paredes, meu corpo por fim se dissolveu
e a mente ainda esperava te ver sentado, entrando, tocando, estando. E não
havia nada disso hoje
E no fundo era disso o mais que você gostava, quando por fim
eu empacotava seus pertences e deixava um recado com o porteiro: - “Não o deixe
entrar”.
Era sua maior refeição ter meu não explícito na porta da nossa casa. Sua casa, minha casa, aquela
que juntos nós decidimos morar.
E por fim eu não queria mais ser tão só, e não queria mais
ter que ser apenas sua e só.
E não queria mais.
O telefone toca, você, cortina, chão e NÃO! Não porra! Eu
disse não!
E lá estava ele, lá estava eu, naquela mesma agonia, mergulhando
em chão duro, de qualquer jeito, com qualquer tesão, me rasgando, me tomando e
por fim. Fim e fim.
Nós sorrimos junto, e seu sorriso, aquele já tão antigo,
dos quais conheço todas as marcas dos teus dentes, tão marcados de tabaco e de
repente ninguém mais sorri.
Mensagem na secretária eletrônica, é tudo mundo, é ninguém e
não é você.
Tem alguém na porta, tem sempre alguém lá, e sempre entra
você, se desculpando dos meus expulsos, com suas prendas roubadas do jardim
vizinho e te vejo entrar tantas vezes, dentro de um minuto e eu sempre abrir a
porta e te dar passagem, colocar a planta no vaso e espairecer num abraço e
prometer que te levo pra ver o mar antes de dormir.
E acaba sendo mais um desses encontros que você não avisa
que vem a sua casa, para a gente se enganar que você não mora aqui e eu te
mandar ir, antes que eu acredite que você pode nos deixar.
O porteiro é o único que vive mais que nós nossas próprias
ilusões.
Eu te levo a praia essa noite, eu cumpro as minhas
promessas, eu espaireço no seu abraço, eu abro a porta para você, nós entramos novamente na nossa rotina, só que não tem ninguém na porta, hoje não tem mar, o telefone não toca, nem o porteiro me avisou que você passou por lá.
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